Pink Fairy Tales...

Meu próprio mundo, em versos... Ora rimados, ora em desespero... Ora em poesia sincera, ora em verdade inventada... Ora a fusão das duas coisas, e muitas resuminadas a nada... Às vezes meio triste, com um quê de sombra e dor... Outras vezes, em palavras inspiradas na alegria, na beleza e no amor...

Sunday, January 13, 2008

Trident de Melancia - Parte II (Isis Brandão - 13.01.2008)


*** Baseado em fatos muito reais
Como não estou de férias, sigo mais ou menos uma mesma rotina. Alguma coisa muda. O clima com certeza muda dez vezes por dia nesta cidade, a cor do batom muda, o repertório de músicas no meu carro, a posição das nuvens, mas o gosto do Trident de Melancia... Ah... Esse continua o mesmo!
Alguns dias depois do incidente narrado anteriormente então estava eu dirigindo de novo de volta do trabalho para minha casa mascando o Trident de Melancia (para os piadistas de plantão, claro que não era o mesmo chiclets da versão passada... ).
Pois bem... Dejavu. Acabou o gosto daquela massinha gosmenta mais ou menos no mesmo trecho que antes da enorme rua Brigadeiro Franco. Mas como eu sou uma moça muito, mas muito esperta mesmo como já enfatizei antes, claro que não cometo o mesmo erro duas vezes, então é claro também que eu inventaria uma estratégia muito mais eficaz de me livrar do chiclets.
Esquece aquele papo de moça elegante que não dá cuspão para fora do carro. Danem-se as testemunhas, porque elas sequer imaginam o estrago que faz uma coisinha inocente e melanciosa daquela no carro das pessoas.
Aumentei o volume do som para dar mais trilha sonora carecida para borbulhar a emoção do momento do meu esperado triunfo e revanche contra aquele trident meloso que me desastrou na vez passada. "Como a vida é boa e quase sempre nos dá uma segunda chance, agora chegou finalmente a hora de eu mostrar quem é que manda neste carro e neste chiclets", pensei em lapsos de vingancinha infantil.
O vidro já estava aberto desde antes. Nem pensei duas vezes: foi só angariar forças folegais, virar a cabeça e cuspir com tuuuuuudo aquele chiclets para bem looooonge dali!!!
TUDO, mas tudo mesmo seria perfeito se não estivesse parado quase colado um outro carro do lado do meu. Mas ninguém merece, né? Até engasgo em confessar que colei o chiclets no vidro do vizinho trafegário.
O sinal ainda estava fechado. Aliás, também tinha acabado de fechar. Meu primeiro pensamento pós fato fatídico foi: "Ah, nããããooo... De novo não...". O segundo foi: "Pelo menos não foi no meu". E o terceiro foi: "Imagina a hora que o cara abaixar esse vidro com esse chiclets... Vai ser um desastre talvez ainda maior. Vou consertar!". Impulsivamente por causa do tempo de agir antes que o sinal abrisse, desacionei meu cinto de segurança, abri a porta e coloquei uma perna para fora do carro pensando em só dar uma batidinha no meu ex-Trident para fazê-lo desgrudar dali e voltar. Este movimento brusco e inusitado chamou a atenção do motorista do carro, que imediatamente olhou para mim, que por conseqüência, olhei para ele.
Pensa num cara gato... Era ele. De terno, gravata, lindo, devia estar também voltando do trabalho como eu. Mas constatar tudo isso me fez ficar com muita vergonha de derrubar o chicletes do carro dele. Seria uma cena ridícula. Então meu segundo impulso idiota foi voltar pra dentro do meu carro, fechar a porta e fingir que tudo que ele viu não passou de uma mera ilusão idiótica. Tenho quase certeza de que foi isso que ele pensou, porque ele me olhou com cara de "não entendi" e sorriu discreto.
Já por minha vez, eu pensei: "Imagina se ele é o homem da minha vida?!" Eu estragaria tudo se ele soubesse que as aparências enganam e esta frágil dama deu um cuspão muuuito forte no vidro do carro dele.
Mas também no outro segundo seguinte me conformei pensando: "Não... Claaaaro que ele não é o homem da minha vida... Afinal, acho que nenhum de nós lindos e elegantes gostariam de se encontrar na poltrona do vovô daqui dez anos respondendo para nossos filhos: Mamãe conheceu papai num final de tarde de sol em que ela abriu o vidro, deu um cuspão para fora do carro e colou chiclets bem no meio do vidro do carro do papai..."
Definitivamente acho que a vida reserva algum espetáculo mais romântico para mim do que este assumido acima...
Ao menos uma lição fica: na falta de SuperBonder, a cola que tudo cola, pode com muita certeza usar o Trident de Melancia...
Seria trágico se não fosse cômico...

Trident de Melancia - Parte I (Isis Brandão - 13.01.2008

*** Baseado em fatos muito reais
Estava eu voltando do trabalho dirigindo meu carro, cantando alguma música boa para o momento e claro, mascando meu habitual Trident de Melancia. Acontece que este chiclet perde o gosto muito rápido e em menos de 5 minutos já anseio por me desfazer dele. Então este pensamento já me passava pela cabeça e tudo seria mera questão de encontrar algum sinal fechado para realizar o serviço.
Pois como o trânsito desta cidade anda caótico, claro que ficar parada na fila do tráfego não foi nada difícil, e como sou ágil e esperta, já fui logo dando conta de me livrar da bola de mascar. Ihhh... Foi quando me dei conta de que estava sem o lixinho do carro. Suponho que o moço que lavou tratou de sumir com ele.
Então pensei: "Bom, chicletes é meio orgânico, se eu jogar no chão, acho que não degradará catastroficamente o planeta". Mas aí já no segundo seguinte adverti meus pensamentos: "É... Mas não fica bem para uma dama como eu abrir o vidro e dar um cuspão para fora do carro..." Se você me conhece, haverá de convir comigo que seria uma deselegância totalmente incondizente com a delicadeza da minha maquiagem e com a formosura da minha roupa rosa daquele dia.
Realmente... Mesmo que ninguém visse, eu não podia me arriscar a gostar de fazer isso. Vai que se tornasse hábito por tamanha praticidade? Melhor não arriscar. Isto eu pensando no tempo do pensamento humano, que voa em frações de segundo. Então concluí que o jeito era mesmo pegar com a mão o chicletes e deixar cair discretamente do lado de fora do carro.
O sinal ainda estava fechado. Aliás, tinha acabado de fechar, porque ainda estamos nas primeiras frações de segundo que eu acabei de explicar. Pois bem. Teria eu então tempo mais que suficiente para me livrar do chicletes e com sorte, até daria para achar algum outro dentro da minha bolsa.
Beleza. Tudo já muito premeditado e espertamente calculado pela minha bela inteligência. Só fazer.
Ainda usufruindo da minha admirável agilidade, aproximei minha mão esquerda da boca, com a elegância de um flamingo deixei-o cair com leveza e joguei para fora.
Joguei?! Ops, colou. Já isso não estava dentro da minha previsão, muito menos apontado na análise de risco, mas previ que deveria ser fácil de corrigir.
Fiquei balançando minha mão para fora do carro em inúmeras tentativas fracassadas de derrubá-lo. Não caiu.
Tudo bem. Tenho uma segunda estratégia: esfreguei minha mão pelo lado de fora da porta do carro para ao menos deixar ele na porta e não me mim. Aaaaaiiiiii, não funcionou... Colou na porta e CONTINUOU na minha mão. Agora eram dois problemas. E o tempo passava. Pensei: "Meu Deus, vai abrir este sinal e eu aqui com essa gosma cheirosa grudada em mim e na porta do carro. Preciso de um plano B urgente!".
Mas claro que estava mesmo muito injusto presenciar minha mão esquerda se degladiando em desespero ali de um lado, enquanto a direita descansava alegremente no banco do passageiro. Achei por bem então escalar a outra mão para ajudar, afinal já havia soado o alarme interno de emergência faz tempo.
Mas se arrependimento matasse... Tive o DOM de duplicar o meu problema. Agora aquele Trident intragável colou nas duas mãos e na porta do carro, mas já era tarde. O sinal abriu e o mundo não podia parar para eu resolver aquele tão momentâneo probleminha...
A buzina do automóvel atrás de mim constatou que fui literalmente obrigada a engatar a primeira marcha, depois a segunda, a terceira, me apoiar no volante para guiar o carro e TUDO isso acompanhada pelo bendito chicletes... Aonde minha mão ia, ele ia junto carimbando seus rastros salivares. Então aquele persistente Trident de Melancia há tempos já estava quase que onipresente por tudo de mim. Tinha trident na porta do carro, trident no vidro, trident no volante, trident na marcha, trident no banco... Era trident por tudo.
Mas tudo bem... Nada que o tio do lava-car que sumiu com minha sacolinha de lixo não resolvesse, afinal, ele tinha 99% de culpa em tudo isso...
Seria trágico se não fosse cômico...